sábado, 22 de janeiro de 2011

tragédia no rio de janeiro

As vassouras, rodos e produtos de limpeza já começam a tomar o lugar que, até semana passada, era somente das escavadeiras no Vale do Cuiabá, no município de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. Após a retirada de parte do entulho dos terrenos –trabalho que continuará por semanas–, proprietários tentam fazer com que suas casas voltem a ser como eram antes do último dia 12, quando uma enxurrada de lama e galhos de árvores desceu rio abaixo e lavou o vale, matando mais de 60 pessoas e deixando cerca de 20 desaparecidos.
Alguns moradores, mesmo observando o nada confiável nível do rio Santo Antonio no quintal dos fundos, iniciam o trabalho de limpeza de seus imóveis.
Para a costureira Priscila Martins, o recomeço também significa uma reorganização da vida. "Vou ter que morar com a minha sogra", afirma. "A casa dela foi arrasada. Não sobrou nada. Então ela subiu aqui para morar com a gente", diz, sorrindo para sua nova companhia diária, Vera Lúcia de Carvalho.
Com um esguicho na mão, rodo na outra e luvas plásticas para mexer na lama possivelmente contaminada, Priscila diz que a água chegou a quase um metro no andar de cima. "Consegui salvar o armário da cozinha, que é alto, alguns móveis, a geladeira e o fogão. Mas o resto foi tudo embora.” Para ela, o peso da decisão de continuar ou não no Vale do Cuiabá não está no medo da repetição da tragédia, mas sim na falta de escola para o filho. "Não tem colégio aqui. Se continuar assim, vou ter que me mudar."
Na casa ao lado, a arrumação também está em ritmo acelerado. Alheia ao visual catastrófico do entorno, a decoração da sala de estar de José Carreiro de Carvalho está impecável. Os estofados do sofá estão limpos, a mesa de centro no lugar e o móvel com a televisão posicionado e sem arranhões –apesar de a falta de luz não permitir que a família ligue o aparelho. "Minha esposa lavou tudo", disse ele, que mora no andar superior da casa. "A gente se salvou e não tivemos muito prejuízo. Mas minha irmã que morava aqui embaixo perdeu tudo", explica ele, vestindo uma máscara no rosto para evitar a poeira que domina a região, fruto da ação dos tratores revirando os entulhos em busca de corpos.
Do outro lado do rio, o lavrador Gilmar dos Santos também começou a recuperar sua chácara. A prioridade foram seus 18 porcos, que continuam vivos após a tempestade. "Eles conseguem ficar em pé apoiando na parede”, teoriza, tentando explicar a salvação dos animais. Como ele afirma, por mais contraditório que pareça, os animais precisam –e gostam– de ambientes limpos. "Lavei tudo. Passei dois dias jogando água no espaço."
Não tão feliz estava o ganso da fazenda vizinha. Órfão do seu lago, que ficou soterrado com a enxurrada, a ave anda de um lado para o outro, como se procurasse a água. "Parece que ela ainda não entende o que aconteceu. Fica assim o dia inteiro", contou Estanislau Francisco Melo, caseiro da propriedade.
Sob um telhado, ele enfileira televisões, máquinas de lavar e outros eletrodomésticos tomados pelo barro. Há ainda pedaços de cama e móveis variados. Os prejuízos incluem ainda uma quadra de tênis que virou um pântano e outra de basquete que está com o chão repleto de barro rachado. Mesmo com tantas baixas no patrimônio, ele conta que o espírito é de renascimento. "Estamos fazendo um pente fino. Limpando tudo, tirando tudo do lugar. Queremos ver o que funciona, o que vamos jogar fora, e começar a reorganizar a vida."

 

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